ÅRGÅNG 5 — HÖSTEN 2005
|
||||||
CAFÉ CRÈME I VÅR |
O Destino de uma Árvore Será que árvore tem destino? Não sei! Na minha rua há diversas árvores, mas uma era especial que ficava bem pertinho, ao lado do meu apartamento no terceiro andar. Lembro-me que era muda de um flamboyant vermelho que foi plantado na calçada do edifício ao lado já há alguns anos; era muito fraquinha, as pessoas que passavam na rua quebravam-a de vez em quando, mas ele foi resistindo e aos poucos foi crescendo. Parecia uma crianca raquítica, magrinha, até que conseguiu crescer mais um pouco e ficar alto soltando alguns galhos. E o tempo foi passando. Da minha janela eu o observava. Um dia eu o achei bem maior, se transformando como a criança que se transforma en adolescente: num repente ficou alto, deitou galhos fortes, se encheu de folhas lindas e fortes tal qual uma menina quase moça. Todas as tardes e todas as manhãs eu o olhava, admirando-o. Quando chovia suas folhas miúdas e prateadas se balançavam, esticando os galhos, parecendo querer tocar um outro flamboyant amarelo do outro lado da rua. Este era de um tipo diferente: meio sem-graça, mais velho – se fosse humano eu diria um tipo exótico, sisudo, honesto, muito sério, muito solitário. Em suma um homem bom mas nada cordial. Nesse último Natal o meu flamboyant lindo se vestiu de gala. Seu tronco cobriu-se de lampadazinhas luminosas e seus galhos mais baixos também – estava lindo! Passou um tempo e eu levei um susto: minha árvore estava nua, não havia uma só folha, e eu comentava, parece morta, mas não era verdade: passarem-se alguns dias e ela começou a brotar, a crescer. Foi tão grande o seu desenvolvimento e beleza que eu ficava a contemplá-la. O vento soprava e seus galhos se encontravam com os galhos do sisudo flamboyant amarelo, parecendo um abraço lindo como uma carícia. Este ano ela vai florir, pensei e a imaginei cheio de flores vermelhas. Mas contemplava a minha árvore pela última vez. Olhei o céu escuro: muitas nuvens e relâmpagos. A luz deve apagar, pensei, pois ela apaga por qualquer chuva, mesmo fraca. Vou preparar as velas. Eram sete horas. Liguei a televisão para ver a novela, a personagem também ligou o vídeo e a fita teve um defeito. Lá fora chovia muito. Fui aquecer o jantar e como previ a luz apagou, mas antes ouvi um barulho estranho. Cheguei à janela. Chovia muito e minha
árvore se achava espalhada no meio da rua. | |||||
Copyright
© 2004, Kulturtidskriften Café Crème |
||||||
|